domingo, 25 de abril de 2010

O Chamado


O CHAMADO
por Lygia Fagundes Telles

"(...) naquele tempo eu já falava em vocação e que vem ser a vontade de fazer isto e não aquela outra coisa eventualmente mais proveitosa e até mais fácil: vocare aprendi nas aulas de latim. O chamado. Obedecer a esse chamado é uma destinação mas não uma condenação que implica em perda de liberdade, na perda entraria o amargor, o que transformaria o escritor em uma esponja de fel.
Obedecer à vocação seria simplesmente exercer o ofício da paixão, era o que me ocorria quando diante da pequena mesa abria meu pequeno estojo com as canetas, escolhia a pena preferida, molhava a pena no tinteiro e começava a escrever as minhas histórias mas tomando o cuidado para não sujar os dedos da mão direita(...).
Quando me perguntavam o que eu queria ser respondia: uma escritora. Mas não falava em vocação, tinha pudor em assumir o ofício. Falar em vocação não poderia parecer arrogância com um toque de soberba?
Só mais tarde fui compreendendo que na vocação não esta incluído o sucesso. Ah! Tantas vocações flugurantes e a obra na maior obscuridade. Melhor se tivessem repercussão mas na realidade o que importa é obeder ao impulso, o chamado. Nehuma preocupação como penachos da vaidade mas prosseguir o trabalho com paciência, o aprendizado da paciência".
Mônica Rossetto

Um comentário:

  1. "...exercer o ofício da paixão..."

    Quantas vezes não me pego pelo caminho da vida sendo jogada de volta nos braços das minhas paixões?
    E o que seria dessa seiva escarlate sem o apelo inebriante da paixão?
    Atendo apenas. E que o que pulsa dentro de mim siga direcionando os meus passos.


    Mô, não poderíamos ter tido um post inaugural melhor. Amei!

    Beijos!

    Letícia.

    ResponderExcluir